O pagador de promessas
O grande marco da carreira de Dias Gomes, O pagador de promessas coloca o dramaturgo entre os mais importantes de sua geração. Escrita em 1959, estreia no teatro em 1960, com direção de Flávio Rangel. Em 1962, ganha o mundo com sua versão cinematográfica, dirigida por Anselmo Duarte, ao se tornar a primeira – e única – Palma de Ouro brasileira, o maior reconhecimento do Festival de Cannes. O autor acompanhou de perto a adaptação do filme, o que garantiu a fidelidade ao seu texto e às suas críticas. A religiosidade arcaica, o sincretismo, a reforma agrária e o sensacionalismo da mídia são alguns dos temas abordados na obra, que, sobretudo, trata do mito da liberdade e da hipocrisia em um sistema capitalista, neoliberal e de injustiças socioeconômicas. O pagador de promessas tem em Zé do Burro o seu herói trágico, sem deixar de lado tantos personagens complexos e populares e os traços regionais que marcam a dramaturgia do autor.
Pessoal e abl
Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em 1922, em Salvador (BA). Perdeu o pai aos 3 anos; assim, durante sua infância e juventude, teve grande influência da mãe, amante das óperas, e do irmão, escritor. Mudaram-se para o Rio de Janeiro quando o autor tinha 12 anos. Dias escreveu seu primeiro conto aos 10 anos e não demorou muito para se tornar dramaturgo. Tinha um jeito irônico, divertido e de humor leve, características presentes em suas obras. Casou-se com a escritora e novelista Janete Clair em 1953, com quem teve quatro filhos e permaneceu junto até o falecimento dela. Seu segundo casamento foi em 1985, com Bernadete Dias Gomes, com quem teve duas filhas. O irmão de Dias Gomes integrou, com Jorge Amado, a Academia dos Rebeldes, grupo de autores baianos emergentes que buscavam uma literatura moderna. Em 1991, Dias foi nomeado imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL) por toda a sua obra como dramaturgo. Entre seus parceiros de trabalho estiveram Procópio Ferreira, Jorge Amado e Ferreira Gullar.
Rádio
Foram 20 anos de trabalho no rádio (de 1944 até 1964), período em que Dias Gomes foi radioator e narrador de programas, fez novelas e mais de 500 adaptações de peças e romances. A primeira experiência foi na Rádio Panamericana, em São Paulo, em 1944. Na emissora realizou, principalmente, adaptações de peças e romances literários para o programa Grande teatro. Teve passagens pelas Emissoras Associadas – onde foi afastado por incidentes políticos –, Rádio América, Rádio Bandeirantes e Rádio Tupi, até chegar à direção da Rádio Clube do Brasil, em 1953. Nesse mesmo ano, após viagem a Moscou (Rússia), foi perseguido politicamente e não conseguiu mais trabalho até escrever clandestinamente para a TV Tupi, onde Janete Clair, Moisés Weltman e Paulo de Oliveira assinavam os textos em seu nome. A breve vivência com a radionovela durante esses anos foi imprescindível para que, depois, escrevesse novelas televisivas.
Teatro
O teatro era a grande paixão de Dias Gomes. Sua primeira peça, A comédia dos moralistas (1937), foi escrita aos 15 anos e premiada pelo Serviço Nacional do Teatro. Em 1942, seu primeiro espetáculo encenado, Pé de cabra, estrelado por Procópio Ferreira, foi censurado pelo Estado Novo. O episódio inaugurou uma longa série de repressões de suas obras durante diferentes governos. Para o autor, o teatro espelha o tempo e o homem de uma época. Dias pertenceu a uma geração que fez teatro político, questionando e refletindo sobre a realidade sociopolítica e a identidade do brasileiro. Em 35 obras, criou desde tragédias, como O Santo Inquérito (1964), até peças musicais, como Vargas (1968). Abordou temas como o falso mito na tragicomédia O berço do herói (1963), o fanatismo religioso em A revolução dos beatos (1961) e a ditadura militar em Campeões do mundo (1979). Foi perseguido pela censura e, ao mesmo tempo, aclamado pelo público e pela crítica. Levou do teatro para as telenovelas muito de suas tramas e seus personagens.
Saramandaia e o Realismo Fantástico
Dias Gomes costumava, de modo geral, transplantar as temáticas e os personagens tratados no teatro para a televisão. Mas com Saramandaia, de 1976, o autor leva ao extremo sua potência criativa, trazendo novos ares para a teledramaturgia brasileira ao retratar uma história surreal e inspirada no realismo fantástico, mesclando elementos da realidade com o absurdo. A obra apresenta personagens com características peculiares, entre eles um professor que se transforma em lobisomem e um homem que tem asas. A novela também abre espaço para um linguajar incomum, o saramandês, em que palavras como desachar e perdoagem aparecem nos diálogos. A variedade dos tipos exóticos representados na novela permite ao autor, mais uma vez, tratar de questões sociais, políticas e culturais da sociedade brasileira. Dias afirmava que o trabalho na televisão era 99% de transpiração e 1% de inspiração. Aparentemente, ele mesmo subverte suas próprias opiniões, criando experimentações jamais vistas pelo espectador brasileiro.
O bem-amado e Odorico
Adaptada do teatro para a televisão em 1973, O bem-amado, de Dias Gomes, entrou para a história da teledramaturgia brasileira por ser a primeira novela em cores do Brasil e a primeira a ser exportada para diversos países. Tamanho sucesso não fez a obra passar ilesa pela censura federal, sendo necessário, para que fosse ao ar, ter os textos aprovados e realizar edições mesmo após as gravações. Dirigida por Régis Cardoso, a novela tem como tema principal a trajetória de Odorico Paraguaçu — inicialmente inspirado no político Carlos Lacerda —, que se tornou maior que a obra que o colocou no mundo. A identificação do público com o prefeito de Sucupira, eternizado na figura de Paulo Gracindo, foi imediata, tanto que seus discursos e neologismos ecoam até hoje. Outros personagens, como Zeca Diabo, Dirceu Borboleta e as Irmãs Cajazeiras, também permanecem atuais na memória dos brasileiros, surpreendendo a profecia do próprio Dias Gomes que dizia que a televisão, em geral, tem um grande poder de impacto imediato, mas não fica na memória.
O Berço do Herói e Roque Santeiro
Uma das mais populares telenovelas de Dias Gomes, Roque Santeiro nasceu da adaptação da peça O berço do herói. A comédia política, que fala sobre democracia e hipocrisia da sociedade, não passou batido pelo governo vigente, sendo censurada em sua grande estreia no teatro, em 1965. Dez anos depois e com ajustes no roteiro, foi adaptada para a televisão, mas, com cerca de 30 capítulos já gravados, também foi alvo da censura e impedida de ser exibida na Rede Globo. Roque Santeiro foi ao ar somente em 1985, com coautoria de Aguinaldo Silva, regravações e outro elenco. A novela bateu 100 pontos de audiência e imortalizou personagens como Sinhozinho Malta, Viúva Porcina, Professor Astromar e Mocinha. Críticas ao coronelismo, ao patriotismo, ao falso moralismo e à religiosidade da sociedade burguesa brasileira, além da sátira à exploração política e comercial da fé popular, estão entre os temas discutidos nesta obra, que entrou para a lista de grandes sucessos de Dias Gomes.
Ateliê e mesa de leitura
Solitário e metódico: assim era o processo criativo de Dias Gomes. Acostumado a trabalhar sempre nos mesmos horários, o autor mantinha-se atualizado com as notícias e se inspirava em livros e músicas, além de desenvolver extensas pesquisas para compor a ambientação de suas peças e personagens, incorporando elementos da realidade. Após migrar para a televisão, teve equipes de pesquisadores à disposição e sempre acompanhou de perto as adaptações inspiradas em seus textos. Os processos eram tão importantes para Dias que, em 1985, idealizou a Casa de Criação Janete Clair, um centro receptor e desenvolvedor de ideias que se tornou um celeiro de novos talentos na Rede Globo, onde o projeto foi implementado. Tinha necessidade extrema de escrever e sofria de uma angústia incontrolável até concretizar suas ideias no papel. Dias falava que seus personagens ganhavam vida a ponto de conversarem com ele e decidirem seus próprios destinos.
No Itaú Cultural
Abertura: 19 de outubro, às 20h
Visitação do público: 20 de outubro de 2022 a 15 de janeiro de 2023
Terça-feira a sábado, das 11h às 20h
Domingos e feriados das 11h às 19h
Pesquisa, concepção, curadoria e realização: Itaú Cultural Núcleos de Artes Cênicas, Música e Literatura e de Audiovisual
Parceria de conteúdo: Globo
Programação paralela
FILME: A partir de 19 de outubro: O Pagador de Promessas, em www.itauculturalplay.com.br
LEITURAS DRAMÁTICAS:
Sala Itaú Cultural
18 de novembro (sexta-feira), às 20h: Meu reino por um cavalo, pelo Teatro do Osso.
19 de novembro (sábado), às 20h: A comédia dos moralistas, pelo Núcleo Experimental de Teatro.
20 de novembro (domingo), às 19h: O Pagador de Promessas, pelo grupo Os Inventivos.
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro / Pisos 1º, 1ºS e 2ºS
Entrada: gratuita
Informações: pelo telefone (11) 2168-1777
Atualmente, esse número funciona de segunda-feira a domingo, das 10h às 18h.
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Assessoria de imprensa:
Itaú Cultural - Conteúdo Comunicação
Cristina R. Durán
(11) 98860-9188
cristina.duran@conteudonet.com
Larissa Corrêa
(11) 98139-9786 / 99722-1137
larissa.correa@terceiros.itaucultural.org.br
Mariana Zoboli
(11) 98971-0773
mariana.zoboli@conteudonet.com
Roberta Montanari
(11) 99967-3292
roberta.montanari@conteudonet.com
Vinicius Magalhães
(11) 99295-7997
vinicius.magalhaes@conteudonet.com
Programa Rumos Itaú Cultural:
Carina Bordalo
(11) 98211 6595
carina.bordalo@terceiros.itaucultural.com.br